quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Sem-teto realizam primeiras ocupações do ano em São Paulo

Um prédio no bairro Belém, na zona leste, e outro no centro da capital paulista foram ocupados na madrugada desta segunda-feira (7)

07/01/2013

José Francisco Neto,

da Reportagem do Brasil de Fato


Prédio foi ocupado por cerca de 200 sem-teto na madrugada desta segunda (7)
 Foto: Douglas Pereira Gomes
A corrente que trancava a porta de entrada do antigo Edifício Santo André foi estourada por volta da meia-noite desta segunda-feira (7). Em seguida, cerca de 200 sem-teto ligados à Central de Movimentos Populares (CMP) entraram no imóvel, localizado na Rua Celso Garcia, 2092, no bairro Belém, na divisa entre o centro e a zona leste de São Paulo.



No mesmo horário, integrantes do Movimento de Moradia da Região Central (MMRC) ocuparam um prédio de quatro andares na Rua General Couto Magalhães, no bairro da Luz, no centro.

“Nosso objetivo, assim como em todas as outras ocupações, é mostrar para a sociedade que existem muitos imóveis, públicos e particulares, não cumprindo a função social da propriedade”, relata Luiz Gonzaga da Silva (Gegê), coordenador da CMP.

Atualmente, 13% das casas e dos apartamentos da região central estão vazios - o equivalente a 22.087 unidades, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em toda a cidade, há cerca de 130 mil famílias sem moradia, conforme estimativa da Secretaria Municipal de Habitação. Procurada, a pasta não se posicionou sobre as ocupações até o fechamento desta matéria.

Tumulto
Enquanto as famílias sem-teto entravam no prédio do bairro Belém, um grupo de adolescentes, residentes da região, começou a jogar pedras contra as janelas do imóvel. Apesar da presença da Polícia Militar (PM), que nada fez diante do tumulto, os jovens conseguiram, inclusive, entrar no prédio. “Eles fazem isso porque se sentem no direito de entrar no prédio também. Eles acham que o prédio é deles”, disse um morador ao Brasil de Fato.

Após duas horas de tensão - e depois de muito diálogo - a situação foi tranquilizada. Assustadas, algumas famílias relataram que nunca passaram por uma situação como essa.
Entretanto, Donizete Sanchez, militante do movimento, esclarece que esses jovens também são vítimas do mesmo sistema de exclusão social. “Não podemos criminalizá-los, como o Estado faz. Na verdade, eles também são vítimas do sistema que nos oprime. Só que eles não têm a consciência que nós temos, que só através da luta organizada dos trabalhadores é que conseguiremos o que é nosso por direito”, explica Sanchez.

Nenhum policial militar presente no momento do tumulto quis gravar entrevista. Até o fechamento dessa matéria, Gegê, coordenador da CMP, disse que a situação na ocupação estava tranquila.